Caros Amigos e futuros Hóspedes,
Num ano tão cheio de surpresas, paragens, mudanças e transformações, chegou a hora de fechar a porta ao que já não faz bater o coração.
Depois de mais de 4 anos de Caminhada, descobrem-se novos horizontes e abrimos novas janelas. Despimos roupas que não nos deixavam andar e reconstruímos pedra sobre pedra a semente que preconiza um nascimento de um sonho de menina. Deixam-se para trás caminhos de velhas melodias e reajustamos o foco na Luz de novas batalhas, iniciamos aprendizagens necessárias ao nosso crescimento.
A vida não por ser contida, nem restrita a um quotidiano de rotinas, sobeja entre as nossas mãos e pede para ousarmos e levantar asas para novos destinos. Não é fácil, como nunca é o desapego ao conforto, ao que é seguro, expectável. Dói a mudança. Arrancar as raízes dos últimos 12 anos e fincá-las com coragem e bravura num lugar que nos é longínquo, mas tão estranhamente, perto no coração.
Fizeram-se tantas tentativas para conseguir ter um trabalho constante, fluído, recompensador, mas por vezes descobrimos que por mais que tentemos, nada evolui, quando a Missão não é aquela a que te propuseste.
Investes, dás de ti, mais do que imaginas, mais do que podes até, e NADA. E se não adianta nadar contra a corrente, então é tempo de rumar a Sul. 4 Anos depois de iniciada a travessia, visualizamos agora o destino. Ainda que incompleto, ainda que falte terminar a sua transformação , daqui a algumas semanas, estaremos prontos a receber de braços abertos os nossos primeiros Hóspedes, nas nossas 3 Casas de Campo no Baixo-Alentejo, com Amor, Gratidão e Alegria.
Assim, ontem, depois de tantas viagens entre Lisboa e o Monte do Carvalhal, replantei as minhas raízes num novo chão. Fechou-se um ciclo e abre-se outro, ciente do sacrifício e das muitas exigências que desde há muito a vida me tem pedido. Recalcular as necessidades, fazer contas, muitas, e ajustar as medidas, usar de muita imaginação e acomodar os últimos anos de vida num espaço de 1 quarto e numa sala c/ cozinha, com 3 gatos e o peso às costas de tantas responsabilidades, nesta Era de Covid-19...Rio-me da criatividade de conseguir re-inventar espaços onde eles não existem e colocar livros, roupa, louça, computador, móveis no que antes foi a casa dos meus Avós – Afinal, conseguimos viver com pouco. Até porque depois de alguns anos sem comprar roupa, nem sapatos, entendemos que nada é mais essencial que a Saúde, a Amizade Verdadeira e o Amor.
Reciclámos toda uma vida em 3 casas T2 e o nosso modesto espaço, colocamos muito de nós - Amor e verdadeira Doçura e Autenticidade nos lugares que foram edificados para receber quem nos visitar. Ainda não estão prontos, mas quase...Sim, falta a piscina, o jardim, os caminhos desenhados, mas sem dúvida que não temos falta de lugares acolhedores, Oliveiras, Figueiras, uma terra vermelha de aroma quente, segurança, tranquilidade, natureza, hospitalidade, sol e um céu de um imenso azul, que nos cobre com um manto infinito de estrelas e nos aconchega o sono, com a promessa de sonhos de encantar.
Assim é o interior do Baixo-Alentejo, uma janela de pequenos Tesouros, que nos enchem o coração e nos trazem Alegria. Vinhos, Azeites, Queijos, Enchidos, Ervas-Aromáticas, Noites de Silêncio e Calmaria, Olival, Borregos, Ruínas Romanas, o Rio Guadiana, Barrancos, Moura, Serpa, Pias, Pedrogão, Vidigueira, Vila de Frades, Vila Alva & Vila Ruiva, Cuba, Ferreira do Alentejo, Beja, Castro Verde, Almodôvar, Aljustrel, Ourique, uma Gastronomia Aromática - as Açordas, as Migas, o Gaspacho, o Arroz de Lebre, o cozido de Grão, as Sopas de Baldroegas com Queijo, os Doces de longa Tradição - o Porquinho-Doce, as Popias, as Costas, os Bolos-Folhados, os Queijinhos de Hóstia, as Túberas, os Borrachos, as Talhadinhas, o Bolo-Chibo, o Bolo de Amêndoa, as Cavacas...Tanto por descobrir, tanto por desvendar, num universo que agora também é o meu e que tanto acarinho no coração, aqui, neste cantinho do Céu, que vos espera com grande Alegria e ao qual chamo de CASA.
Homenagem ao Alentejo
Página
Planície como página
este é o chão que procurava
silêncio feito asa quase pão quase palavra
Para ser canto
Para ser casa.
Poemas de Manuel Alegre, em "Alentejo e Ninguém", 1996
Bem-hajam,
Rita, 4 de Agosto 2020 - Monte do Carvalhal
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